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Biodiversidade Tropical

17 - Julho - 2021

A biodiversidade aumenta com a aproximação ao equador. A temperatura e a humidade favorecem as mais diversas formas de vida. A zona tropical, que representa 40% da superfície da Terra, alberga 90% das aves, 85% dos insetos e mais de 75% dos mamíferos, anfíbios, peixes e plantas com flores. A diversidade é várias vezes superior à das restantes regiões do planeta.
O Brasil tem 17% da superfície da área tropical e é o país mais rico em diversidade: nele vivem 3,6 mil espécies de peixes de água doce, que representam 24% do total de peixes de água doce do planeta, e 1,9 mil espécies de aves, que correspondem a 17% de todas as aves do planeta. O Brasil tem 12% das plantas,, 11% das formigas, 13% dos anfíbios e 12% dos mamíferos. Os biomas tropicais brasileiros guardam 12% da água doce superficial da Terra e fazem do país o maior contribuinte para a estabilidade climática global. A Amazónia retém carbono numa proporção equivalente a 10 anos de emissões geradas pela queima de combustíveis fósseis.
Estes indicadores resultam da investigação desenvolvida ao longo de duas décadas pelas Universidades de Lavras (Brasil) e Lancaster (Reino Unido) e colocam em evidência a relevância global das regiões tropicais para a estabilidade climática, a biodiversidade e a sustentabilidade.

tropical

Os indicadores clássicos com que se medem as economias e os recursos são incompletos e mostram uma versão distorcida da realidade. Na hora de preservar os recursos das zonas tropicais, os países e povos dessas regiões são praticamente abandonados a si próprios e à ação predatória dos interesses económicos. O próprio conceito de "valorização" dos recursos é ambíguo. A exploração pura e dura sem preocupações reais de sustentabilidade (extrair o máximo valor o mais rapidamente possível) é uma falsa valorização. O valor dos recursos nativos dos trópicos é bem superior porque excede largamente o valor comercial imediato. Cada árvore não vale apenas a madeira que fornece, devia valer também o carbono que retém e todo o benefício pode aportar para o futuro. O problema é que ninguém está disposto a pagar o real valor desses recursos. É bem mais fácil enriquecer à custa do futuro.
Os trópicos, e o Brasil em especial, têm a maior quota parte da biodiversidade, mas têm também a maior quota parte no número de espécies ameaçadas. A recolha de dados e a investigação continuam a deixar avisos. Abundam os diagnósticos e as derivas filosóficas e ideológicas contra o "antropocentrismo" e a favor da prevalência da natureza sobre o ser humano. Só que a solução terá que humana, ou não será solução. Faltam os consensos e as medidas que travem as tendências predatórias e substituam os modelos de "desenvolvimento" predatórios e não sustentáveis. Se os biomas tropicais contribuem para a estabilidade climática global, então os países dessas regiões devem ser remunerados por esse serviço que prestam aos demais. Há que elaborar a forma e a métrica dessa remuneração.

Carlos da Silva Campos

Fontes:
Ronaldo Ribeiro, A Solução Hiperdiversa,;  Ronaldo Ribeiro, Alan Azevedo e Letícia Klein, Dados Inéditos sobre a Biodiversidade Brasileira; Jos Barlow et alia, The Future of Hyperdiverse Tropical Ecosystems, in Nature, 25/7/2018

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